Onde os paranoicos fracassam

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José Castello

“São muitos os laços que aproximam literatura e psicanálise. Ambas são a construção, ou a tentativa de construção, de uma narrativa. Tarefa impossível que, nos dois casos – apesar da “alta” ao paciente, ou dos originais entregues ao editor – nunca, de fato, se conclui.
Essa aproximação é, porém, ainda mais radical. Nos dois casos, mais do que uma reconstituição do passado – como nos mostram os astrônomos que vasculham o céu capturando os restos de estrelas mortas -, o que de fato se realiza é uma reinvenção. No lugar do vazio, por sobre a dor do grande esquecimento, alguma coisa enfim se ergue. Algo, de fato, se inventa.
Este impecável romance de estréia de Tiago Franco é uma demonstração definitiva desse elo. Um psicanalista rememora sua vida. Sua vida afetiva e sua vida profissional, que enfim se mesclam. Ambas – vida e psicanálise – precisam ser reinventadas para chegarem a existir. Precisam ser narradas, em busca de um sentido, ou se desmancham como poeira.
O livro de Tiago é, assim, um livro limítrofe. Trafega entre o ensaio e a ficção – e, lido nas duas perspectivas, é igualmente brilhante. A teoria psicanalítica comparece não como citação, ou exercício esnobe, mas como matéria pesada de meditação. A existência de um saber que escorre sob a narrativa não lhe tira nem a leveza, nem a elegância.
A ficção revela, assim, uma face secreta: não passa de uma espécie de travestismo, no qual, sob o grande vazio da origem perdida, algo se veste – ou, como diriam os travestis, “se monta”. Há um psicanalista que se traveste de escritor, mas há também, e sobretudo, um escritor que ousa se pensar.
Por fim, estamos diante de um escritor de verdade, Tiago Franco, que vacila entre os dois campos. Há em cena, também, um psicanalista que, como dedicado colecionador de emoções, escreve seu romance.
Todos precisamos criar narrativas, embora não necessariamente escrevê-las. Só os escritores de talento conseguem dar o salto entre vida e a palavra. Há sempre um fracasso em cena, mas é justamente com a narrativa desse fracasso que construímos a existência.” (José Castello)

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Descrição

José Castello

“São muitos os laços que aproximam literatura e psicanálise. Ambas são a construção, ou a tentativa de construção, de uma narrativa. Tarefa impossível que, nos dois casos – apesar da “alta” ao paciente, ou dos originais entregues ao editor – nunca, de fato, se conclui.
Essa aproximação é, porém, ainda mais radical. Nos dois casos, mais do que uma reconstituição do passado – como nos mostram os astrônomos que vasculham o céu capturando os restos de estrelas mortas -, o que de fato se realiza é uma reinvenção. No lugar do vazio, por sobre a dor do grande esquecimento, alguma coisa enfim se ergue. Algo, de fato, se inventa.
Este impecável romance de estréia de Tiago Franco é uma demonstração definitiva desse elo. Um psicanalista rememora sua vida. Sua vida afetiva e sua vida profissional, que enfim se mesclam. Ambas – vida e psicanálise – precisam ser reinventadas para chegarem a existir. Precisam ser narradas, em busca de um sentido, ou se desmancham como poeira.
O livro de Tiago é, assim, um livro limítrofe. Trafega entre o ensaio e a ficção – e, lido nas duas perspectivas, é igualmente brilhante. A teoria psicanalítica comparece não como citação, ou exercício esnobe, mas como matéria pesada de meditação. A existência de um saber que escorre sob a narrativa não lhe tira nem a leveza, nem a elegância.
A ficção revela, assim, uma face secreta: não passa de uma espécie de travestismo, no qual, sob o grande vazio da origem perdida, algo se veste – ou, como diriam os travestis, “se monta”. Há um psicanalista que se traveste de escritor, mas há também, e sobretudo, um escritor que ousa se pensar.
Por fim, estamos diante de um escritor de verdade, Tiago Franco, que vacila entre os dois campos. Há em cena, também, um psicanalista que, como dedicado colecionador de emoções, escreve seu romance.
Todos precisamos criar narrativas, embora não necessariamente escrevê-las. Só os escritores de talento conseguem dar o salto entre vida e a palavra. Há sempre um fracasso em cena, mas é justamente com a narrativa desse fracasso que construímos a existência.” (José Castello)

Informação adicional

Peso0.23 kg
Dimensões16 × 2 × 11 cm

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